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A mostrar mensagens de abril, 2008
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Costumo dizer que há cidades de que se gosta. Do Porto aprende-se a gostar. E, normalmente, a primeira impressão é repelente. É uma cidade mal humorada, difícil, de acesso restrito e caprichosa. Os curiosos de passagem são afastados pelo hálito, pelo sotaque forte e pela cor da pele encardida de cinzento granítico das casas, monumentos, ruas e até das pessoas. Os que aprendem a cidade são recompensados de forma evolutiva. Todos os dias, na camuflagem do tempo, da geografia, da história e da personalidade o Porto premeia os interessados com paisagens, luzes, sombras, cores, névoas, formas, ilusões, miragens, aromas, sorrisos, seduções, descobertas, surpresas, mistérios e segredos. Por mais que se aprenda nunca se conhece o Porto. É um vício.
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À porta da Igreja das Antas, uma procissão de plátanos carrega a Primavera no esplendor do tapete verde. O caminho está aberto para a visita inesperada que o Inverno anda a fazer.

Tonight is blues

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Tonight is blues. Pendurada nos acordes do órgão electrónico, a voz negra, a fazer lembrar Tom Waits em noite de bebedeira, preenche a escuridão tingida de luzes coloridas das lâmpadas de presença e velas de sal espalhadas pelas mesas do Hotfive. Já passa da meia-noite. O primeiro andar está quase cheio de fumadores de conversa solta esmagados subitamente pelo swing típico dos blues. No piso de baixo a sala está bem composta. O baterista, Cenoura, já abandonou a mesa brincalhona e os dois amigos que foram obrigados a cheirar os eflúvios das peúgas, das palmilhas e até das solas das botas que colocou ao lado das bebidas. Instalado no meio da bateria, por entre esgares de louco, beijinhos às fãs imaginárias e malabarismos mal sucedidos com as baquetas, aguarda as instruções do líder da banda. Wolfram Minnemann mantém a cara de miúdo reguila com cinquenta anos, ou mais, bordada por um aro louro de cabelo adolescente e um sorriso desarmante, enquanto prime as teclas. O ritmo do blues vai-s

Câmaras de filmar nas salas de aula!

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A cena de violência entre uma aluna e a professora de francês na escola Carolina Michaëlis, no Porto, faz lembrar aqueles lances polémicos que a justiça desportiva decide punir depois de analisar as imagens televisivas. O facto de um colega da estudante ter gravado a cena e a ter colocado no You Tube provocou uma amplificação da gravidade do caso e obrigou a uma discussão generalizada sobre a falta de educação nos estabelecimentos escolares que em alguns casos chegam à agressão física. Do You Tube as imagens foram repescadas por um semanário e a seguir reproduzidas até à exaustão pelas cadeias de televisão. As reacções sucederam-se em catadupa desde as bases populares até às cúpulas dirigentes nacionais. Tal qual como nos lances polémicos do futebol: A agressão grave entre jogadores não é percepcionada pelo árbitro, o povo reclama justiça, os jornais e televisões exibem a prova e o tribunal futebolístico acaba por parir uma qualquer sentença que, por norma, costuma ser tão ou mais pol
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No momento em que o FC do Porto se sagrou vencedor virtual da Primeira Liga de futebol 2007/2008, encontrei, por acaso, estas duas fotografias de José Rocha, então a trabalhar no Público, que recordam a conquista do FC do Porto no campeonato de 1992/93. Lembro-me que, ao serviço da Rádio Nova, concebemos a cobertura jornalística de mais uma festa azul-e-branca a partir dos céus, num helicóptero alugado para o efeito. O estádio é o das Antas. Cheio como um ovo. A invasão de campo era a genuinidade natural da festa. Vitória de domingo à tarde, fecho de temporada, por 2-0 sobre o Marítimo e vitória final sobre o Benfica, primeiro dos últimos a apenas dois pontos. Futre, Rui Costa, João Pinto, Rui Águas, Paulo Sousa, treinados por Toni, não conseguiram impedir que os tripeiros comandados pelo brasileiro Carlos Alberto Silva renovassem a conquista do campeonato. No Porto jogavam Vítor Baia, Aloísio, Fernando Couto, Jorge Costa, Timofte, Rui Filipe, Jaime Magalhães, André, Paulinho Santos, D
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Pescador de Monte Gordo, Portugal, Junho de 2007 É conhecido por "o mudo". Emite uns sons guturais que assustam as crianças e tem uns jeitos bruscos que divertem os adultos. Riem-se dele. Gozam-no. Em tempos terá sido pescador. Agora ajuda a montar e a desmontar barracas de praia recebendo cervejas pelo trabalho ao sol. Dizem que é atrasado mental desde criança. E ele? Que pensará dos corpos disformes estendidos ao sol, da criançada irrequieta e barulhenta e dos desportistas de verão? Que confidências fará ao mar que lhe desenhou sulcos no rosto e lhe incrustou raízes na pele? Que imagens guardará por trás do olhar sumido? Que recordações remói enquanto levanta a âncora de uma embarcação que descansa na berma da água? Vestiu-se como se fosse à missa para acariciar as formas flutuantes, desentrançar as redes e limpar as escamas dos peixes coladas na barriga dos barcos. Oh mar! só tu me entendes no silêncio dos meus dias...