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A mostrar mensagens de 2010

Outono no charco

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De todas as vezes, e foram muitas, que passei naquele local senti-me possuído, ainda que por instantes, por uma sensação de perfeito e quieto equilíbrio. Desta vez parei. O Outono estava acampado naquele canto recôndito da estrada de paralelo. Há uma mesa de pedra a convidar para um encontro com a natureza. E há um pequeno charco à saída da mina onde se afogam as folhas esvoaçantes de plátano. No cemitério outonal decorria uma cerimónia tocante. Na linha do reflexo uma folha de plátano dava a mão a uma pequena folha caída de um carvalho enquanto um sopro de vento as atravessava para outra margem. Salvaram-se ambas, apesar do sussurro atraente das almas no fundo do charco e da miragem azul do céu a indicar um caminho errado. Saí, pé ante pé, sorrateiro e envergonhado, como uma testemunha acidental. Senti nos pés as queixas do outono esmagado pelo meu peso. Desfez-se o equilíbrio. Volto na primavera...

Tocador de Tuba

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Esta fotografia faz-me sempre ouvir a música Fon Fon Fon dos Deolinda. Um grupo que reinventa de forma admirável o conceito de música portuguesa. Uma banda sonora para colorir os dias cinzentos. Fon Fon Fon Deolinda Composição: Pedro da Silva Martins Olha a banda filarmónica, a tocar na minha rua. Vai na banda o meu amor a soprar a sua tuba. Ele já tocou trombone, clarinete e ferrinhos, só lhe falta o meu nome suspirado aos meus ouvidos. Toda a gente - fon-fon-fon-fon - só desdizem o que eu digo: "...Que a tuba - fon-fon-fon-fon - tem tão pouco romantismo..." Mas ele toca - fon-fon-fon-fon - e o meu coração rendido só responde - fon-fon-fon-fon - com ternura e carinho. Os meus pais já me disseram: “Ó Filha, não sejas louca! Que as Variações de Goldberg p'lo Glenn Gould é que são boas!” Mas a música erudita não faz grande efeito em mim: do CCB, gosto da vista; da Gulbenkian, o jardim. Toda a gente -fon-fon-fon-fon. só desdizem o que eu digo: "... Que a tuba -fon-fon-

A pomba suicida

É a persistência daquele som abafado, que não dá tréguas aos meus pensamentos, que me compele a escrever este texto. Para mim foi suicídio. Mesmo à minha frente, nos semáforos do jardim de Arca d'àgua, no Porto, uma pomba ferida esperava que o sinal ficasse verde, indiferente aos peões. Parecia ter as mãos nos bolsos, com as asas feridas encostadas ao corpo, o que lhe dava um ar de uma dignidade humana. Os carros encostaram os pneus da frente à linha da passadeira e a pomba iniciou a travessia. Calma, determinada, cabeça erguida, sem uma ponta de receio, percorreu os traços paralelos pintados na estrada até escolher um ponto fatal no percurso obrigatório da roda direita do carro que estava ao lado do meu. Ficou à espera do vermelho. Paralizado pela consciência da desgraça iminente e fascinado pelo gesto tão obstinado não reagi a tempo de pregar o susto que poderia salvar-lhe a vida. O som. O som da morte. O som indigno do esmagamento inevitável escolheu o meu cérebro para viver dur

De Sevilha com amor...

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Através do Facebook, a propósito da etiqueta "Amor Vadio", que me tem entretido nos últimos tempos, uma seguidora(Maria Calle Vellés) do BLOGUÍCIA sugere a leitura de um artigo do jornal Diário de Sevilha. Fica a sugestão. Afinal, o amor é um inventor de símbolos. Los candados del amor vuelven a Triana Unos 400 cerrojos cuelgan del puente y el Consistorio ha retirado 2.000 en un año El Ayuntamiento de Sevilla no tiene nada que hacer contra los más románticos. Los juramentos de amor eterno que venían haciendo parejas sevillanas y extranjeras han vuelto con más fuerza que nunca este otoño al puente de Triana, a pesar de las retiradas que han sufrido estos símbolos de afecto en el último año por parte del Consistorio. Según el recuento que llevó a cabo ayer este periódico, hay alrededor de 400 candados enganchados nuevamente a las barandas de este monumento que fue declarado Bien de Interés Cultural (BIC) en 1976.

Coração em obras

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Tenho o coração em obras. O meu peito é um estaleiro por onde circulam incessantes estruturas e materiais de construção. Abro caboucos, reforço as fundações, coloco pilares de betão armado para reparar as fissuras das paredes da máquina central onde se produz o amor. É uma obra ciclópica que dura há demasiado tempo. A máquina não pode parar. Resfolega, exala desperdícios pútridos, uiva, estremece, mas funciona. A ti o devo. És o combustível vital que alimenta esta empresa do sentimento. Se me cortares o fornecimento eu vou à falência. Para mim és tudo. Castelo Branco

Amor ma(e)terno

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Digo-te aqui e agora o que nunca te disse quando o teu olhar pedia respostas. Sempre semeei silêncios no chão do teu afecto e nunca reguei as flores que colhia dos teus gestos. Coloquei correntes de ferro nos meus sentimentos e agora é a ferrugem da alma que me escorre em forma de poema. Nunca te disse porque pensei que soubesses. És a mulher mais bonita. És a melhor pessoa. És a mãe mais carinhosa do mundo. Mãe és a melhor. Ainda que não to diga. Ainda que seja tarde. Entrada dos estaleiros navais, Viana do Castelo

Antes um cancro...

Na tabacaria à minha frente o homem de meia idade, com ar desleixado, pediu um maço de tabaco pelo nome, fruto de uma confiança de muitos anos de companhia, enquanto contava os trocos. O braço da rapariga por trás do balcão agiu automaticamente, sacou a caixinha vermelha e pousou-a à frente do cliente, sem comentários. O homem pegou no maço de tabaco e ficou a observá-lo mais tempo do que era costume. Quieta e muda, a rapariga esperava o dinheiro. O cliente levantou os olhos, fundiu-os com os da interlocutora e fulminou-a: - Não quero este maço. Diz aqui que pode causar a impotência sexual. Dê-me antes o outro que provoca o cancro...

Amor aos molhos

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Rui - Que estás a fazer, pá? Luís – Então não está a ver? É uma declaração de amor à minha namorada. Para que a Nadia não tenha dúvidas, quero que toda a gente saiba que a amo. Rui – Isso é muita fixe… Luís – A primeira vez custa um pouco. Assusta veres ali escarrapachado, na parede da escola, algo que tu sentes na intimidade, tás a ver… Rui – E o pessoal não goza contigo? Luís – Tou-me a cagar. Nem dou conta. É que eu curto mesmo da miúda. Rui – Olha lá… Achas que podias fazer uma para mim? Luís – Tás tolo?!!! Isto é uma coisa pessoal. Rui – Sim, eu sei. Mas sou um bocado tosco com o spray. Ia ficar uma cagada, meu… Vá lá. Tu escreves e eu assino. Luís – Ok. Tá tudo. Tu é que sabes… E que queres que eu escreva? Rui – É pá… igual à tua frase: Amo-te Soraia. Luís – É para já… Gostas? Rui – Deixa ver… de longe… Está muito igual. A letra, a frase, a assinatura… põe por cima “muito”. Isso. Assim fica melhor. Deixa-me assinar… Rui. Luís – Baril. A tua assinatura não engana… Não

Amor arrependido

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A... não sei se te deva dizer isto. É tão nova para mim, esta sensação que me impele a escrever o que sinto no beco em que te beijei pela primeira vez. AM... e se tu te rires de mim quando vires este sarrabisco e gozares com os meus sentimentos? AMU... estou a fazer asneira Kate, eu sei, tu não vais achar piada nenhuma a esta séria brincadeira. AMU-T... pronto agora já sabes que fui eu o autor da escrita, já é tarde, pronto... e se eu inventar outra palavra? AMU-TE... mas é assim que me sinto quando penso em ti. Ri-te de mim à vontade, ficas a saber pelos meus dedos que os meus lábios não sabem rascunhar esse verbo. Que vai acontecer quando te voltar a encontrar? O que vais fazer Kate? Não, desculpa, desculpa, é melhor apagar isto... que vergonha! O que sinto por ti nem às paredes confesso. Esquece. Beco em Beja

Maldito Camões...

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Aprendi, neste Liceu Diogo Gouveia, em Beja, que o amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. Maldito Luís Vaz de Camões que tantas pestanas me fez queimar para decorar os sonetos que a professora de português gostava de ouvir declamados com emoção. Sabia a definição camoniana do amor de cor e salteada e era, dos rapazes da turma, o que melhor representava, com um esbracejo largo e um olhar semicerrado. Maldito Camões... de tanto brincar às palavras acabei naufragado no mar esverdeado dos olhos da professora. Agora conheço o sentimento que o poeta traduziu para o mundo. Agora sei que ele sofria do mesmo fogo que me corrói e me alimenta. Maldito, que me incrustaste o poema no peito... E eu não tenho jeito para escrever. Por isso, Ana, mede o ardor do meu coração pelo tamanho das letras que pinto neste mesmo Liceu onde o Camões me tramou. Liceu Diogo Gouveia, Beja

Amor eterno

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O poeta diz que o amor é eterno enquanto dura. Mas há amores que duram para sempre. São eternos mesmo quando acabam. É deste tipo de amor que te quero dar conta. Podem deitar estes centenários muros abaixo que a verdade da mensagem vai brotar por entre as pedras da calçada. Vou amar-te para sempre. Ainda que o teu amor por mim sofra da falta de água que faz morrer as flores; Ainda que desvies os canais que irrigam o meu coração; Ainda que me vires as costas; Ainda que digas que não me queres amar; Ainda que ames outro. O meu amor por ti é eterno. Dura enquanto eu durar. Arca d'Água, Porto

Terra queimada

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É um cenário triste. Uma terra negra de carvão e cinzas dá chão a estacas esturricadas do que até há pouco tempo foram árvores do Parque Nacional Peneda Gerês. No terreno, centenas de homens artilhados para uma guerra contra o fogo não lavam na água das mangueiras o desânimo da derrota nos rostos enfarruscados. As cores das labaredas desafiam a intensidade do sol e chegam a emprestar à paisagem, a curto prazo, imagens de uma beleza assustadora. É uma guerra com longas batalhas em que o derrotado é sempre o mesmo.

Muro das declarações

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Escrevo-te com o coração nas mãos e o spray azul no caderno de parede, cá do bairro. Este é o muro das declarações de amor. Divido a folha de pedra com a proclamação amorosa ao FCP e com um "Amo-te babi" impessoal e deselegante. Uso a linguagem das mensagens que te costumo mandar por telemóvel e recorro às reticências, para que acrescentes tudo o que quiseres ao que eu sinto por ti. O meu amor, Pedro, vai durar muito mais do que o tempo desta mensagem que em breve sucumbirá a outra declaração qualquer. Bairro das Condominhas, Porto

A curva do amor

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Andou a matutar na frase dias a fio, como se fossem anos. Acabou por encontrar a fórmula absoluta. Nome, vida, paixão, amor, eternidade. Só faltava o suporte para a declaração mais completa do mundo. A última curva antes dela chegar a casa pareceu-lhe o mais adequado. Todos os dias havia de dar de caras com o mandamento que lhe comandava a existência. As paredes da casa abandonada, em ângulo obtuso a marginar a rua, assemelhava-se a um post-it gigante. Não poderia ignorar. E Cláudia não ignorou... Da primeira vez que a frase gigante lhe entrou pelo pára-brisas dentro perdeu o controlo do carro e embateu violentamente no muro à saída da curva. Aquela paixão desmedida um dia acabará por matá-la, pensou. Mas, ainda que tal venha a acontecer, aquele amor é como um seguro de vida: também inclui a eternidade... Rua das Condominhas, Porto

O ferrador artista

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Se fosse médico teria o mesmo cuidado com os doentes e a mesma dedicação profissional com os equipamentos. Se fosse artista teria o mesmo desvelo e a mesma inspiração. É ferrador. Coloca sapatos de ferro nas unhas dos cavalos. Com uma técnica cirúrgica e uma estética sábia. A cara do cavalo é a melhor legenda da fotografia. Tem o mesmo semblante fascinado de uma modelo internacional a olhar para a manicura que lhe aperalta as unhas dos pés.

Amor em obras

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Estaleiro de obras no fim da A3, à entrada da VCI, no Porto O meu amor por ti é uma via estreita. À medida que me aproximo sinto o chão a fugir-me debaixo dos pés. Sei que quando estiver a chegar vou ter que abrir a vereda com as minhas mãos e construir o atalho que leva ao teu coração. Não desisto. De resto já estou a treinar. Sou empregado de construção civil. Estou ansioso que apareça o sinal de estrada sem saída para cavar o túnel até ao teu peito e atapetar de amor a entrada do teu coração. E depois, com tempo, hei-de conseguir construir uma auto-estrada de muitos sentidos entre nós.

Coração ao alto

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Joana, quero dizer-te bem alto quanto te amo. Pensei num megafone ligado a um amplificador. Pensei numa mensagem na rádio num qualquer programa de discos pedidos. Pensei num spot de televisão. Pensei gritar bem alto no intervalo de um concerto de rock. Tu mereces mais, Joana. Por isso subo ao ponto mais alto e inacessível da ponte da Arrábida e deixo aqui gravado o testemunho do meu afecto. É aqui que o sol de despede da cidade antes de se esvair no mar. É o que eu sinto por ti... vontade de me desprender do alto deste arco que desafia as alturas para mergulhar na profundeza da tua vida. Por ti sou capaz de tudo. E agora vou-me embora antes que venha a polícia... Sou quem sabes: Keita.

Construção de um sonho - A primeira pedra

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É um acto simbólico. O das primeiras pedras. Das ruínas renasce a nova forma. São as mesmas pedras encostadas a outras, formando novos ângulos e vencendo outros desníveis. Tiram-se linhas, marcam-se pontos e dá-se vida ao projecto. O sonho está a parir. A obra nasce.

Vandido...

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Fluvial, Porto Não aguento mais este grito que ameaça explodir-me o peito. Não há folha de papel que consiga absorver a grandeza do meu amor. Declaro-me nesta parede branca virada para o rio, na esperança de que navegues no meu sentimento. Chamo-te gata porque é o nome que usam nas telenovelas quando querem dizer muito bonita. Carla, amo-te tanto que nem dou hipóteses ao hífen de nos separar. Agora é que tu me tramaste. Como posso não retribuir? Como posso ficar insensível a esse clamor esculpido na parede do bar dos pilotos da barra? Roubaste-me o coração... Vandido!!!

Paragem de autocarro

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Quando chegou à paragem do autocarro, a caminho do emprego na fábrica de confecções, ainda não estava completamente desperta. Mas mal os olhos bateram na parede sentiu um choque que lhe acordou o corpo todo. Ele cumpriu a promessa que tinha anunciado na noite anterior, no meio do turbilhão de carícias, na penumbra da paragem do autocarro: "Amanhã vou fazer-te um convite." Foi um dia estranho. O tempo parecia uma lesma; o coração um cavalo selvagem; o pensamento uma barata tonta. No regresso a casa não saiu, como era hábito, na paragem mais próxima de casa. Foi ele que entrou no autocarro. E seguiram até ao fim da linha... (Paragem de autocarro em Sobretâmega, Marco de Canaveses)

Amo-te puta...

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A Liberdade conduzindo o povo, Eugène Delacroix, 1830 Conheci a Liberdade era eu um miúdo e ela uma jovem inocente e frágil. Acabava de ser autorizada a sair à rua depois de 48 anos de cativeiro. Esteve prisioneira da velha senhora e ninguém a viu durante esse tempo de ditadura. Foi a revolução de Abril quem lhe desembaraçou a mordaça, cortou os grilhões e a ofereceu, virgem, ao povo. Ingénua, ansiosa, vestida de coragem, a menina-mulher Liberdade logo encaixou um cravo revolucionário no talvegue dos seios e saiu à rua, guiada pelos ventos da mudança que esvoaçavam os cabelos compridos. À primeira aparição do anjo libertador apaixonei-me. Vi-a como possível mãe da democracia prematura e, num assomo de emoção, propus-lhe namoro e casamento. A Liberdade logo disse que sim, camuflando o compromisso da fidelidade na promessa de vivermos, daí em diante, felizes para sempre. Pobre de mim! A suprema excitação da Liberdade levou-a a aceitar todos os convites. Desforrou-se de uma vida

A construção de um sonho

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Primeiro são as vivências da infância misturadas com os anseios pueris plantados pelas circunstâncias da vida. Cresce o desejo de possuir e alimenta-se o direito a um pedaço de terra amanhada por iguais. Mudam-se os tempos, as funções e as mentalidades mas a semente serôdia continua prenhe. Materializa-se a imagem num feliz acaso geográfico e dá-se a germinação. Reserva-se o pedaço de paisagem. Logo a imaginação revolve a terra húmida, limpa as bordas, move pedregulhos, conserta os muros, reconstrói a velha casa rural, acrescenta corpos modernos. Transforma. Nascem novas linhas e formas para guardar velhas memórias. 10 anos a ver passar os invernos. Aguarda-se a primavera. Eis que o sol finalmente nasce no Marão. O rio Douro passa barrento e turvo com pressa de chegar ao Porto. O Bestança dá-lhe pinceladas de verde. A neve do Montemuro já derreteu há muito. Está na hora, que a jornada continua a ser de sol a sol. É um dia longo para construir um sonho. O sonho é um sítio onde é possív

Marca d'água

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Imirjo no abismo. Todo eu me fundo no profundo azul do tempo. Procuro respostas na perfeição do cosmos. E o espelho devolve palavras em vez de imagens: És o melhor de mim... E permanece como marca d' água.

VALTER HUGO MÃE

Valter Hugo Mãe e " a máquina de fazer espanhóis", dois pretextos para uma reportagem na TVI

VALTER HUGO MÃE - A máquina de abanar portugueses

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O título desta entrevista foi-me dado pelo próprio Valter Hugo Mãe na dedicatória que manuscreveu num exemplar de “a máquina de fazer espanhóis”. No terceiro andar do prédio das Caxinas, onde mora, os trolhas ainda esperavam pelo sinal do escritor para que pudessem voltar ao trabalho, depois de uma trégua pedida para que a entrevista televisiva não ficasse com o fundo sonoro de martelo pneumático. A tarde escoou-se à beira-mar com o Valter Hugo Mãe, de livro na mão, a sujeitar-se a repetidos movimentos para a câmara de filmar. Tenho esta mania de tentar espreitar para os bastidores. Li, há tempos, “o remorso de baltazar serapião”. Apesar do título e assinatura do escritor aparecerem com letras minúsculas. Li-o, desconfiado e, depois, incomodado por ser preconceituoso. “A máquina de fazer espanhóis” fez o resto da transformação. Fez de mim um leitor viciado à procura dos restantes romances e da poesia de Valter Hugo Mãe (ofereceu-me a colectânea “Folclore Íntimo” que estava destinada à

O Velho e o Mar

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O velho avançou intrépido pelo calçadão que leva ao farol. O mar ladrava arremessos furiosos contra o molhe, preso ainda à maré enchente. Sem hesitações o velho venceu a distância, num lento andar de três pernas. Chegou ao sopé do farol e subiu a custo o degrau da amurada granítica. Debruçou-se e olhou de frente o furioso monstro que se espumava contra os muros. Respingos salgados colavam-se à barba. Olhar profundo e desafiador. Um sorriso de vitória. O velho afogou as saudades do mar. E, imperturbável, virou-lhe as costas: - Até amanhã...

Olhar de um cavalo

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No olhar de um cavalo cabe um mundo inteiro.

Casamento homossexual ou aborto?

Ou muito me engano ou a aprovação do projecto de lei de casamentos de pessoas do mesmo sexo em Portugal vai acabar por ser um aborto jurídico. O artigo 13 da Constituição reza assim: 1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social. Se há direito a adoptar ou a ser adoptado então este casamento agora aprovado colide com o artigo 13. É a nossa típica tendência para fazer tudo pela metade. E já agora… Porque é que os do mesmo sexo fazem questão de se encaixarem numa instituição que foi criada para unir uma mulher e um homem, preservando a espécie e fomentando a normalização social?

Paulo Rebelo - O profissional das apostas (notas sobre uma reportagem TVI)

Ao ler alguns dos milhares de comentários que pululam pela internet, a propósito de uma reportagem que fiz com Paulo Rebelo, um profissional de apostas on-line, que vive entre Porto, Madrid e Londres, onde se tenta explicar algumas das razões do sucesso da invulgar actividade, não consegui evitar alguns sorrisos condescendentes pelas barbaridades, conclusões e opiniões que se podem escrever. Desde a garantia de que a reportagem foi uma encomenda da casa de apostas Betfair à TVI, até aos raciocínios invejosos sobre o que consideram ser uma mentira, há de tudo. O que me admira é o interesse que a reportagem despertou na net bastando, para o confirmar, introduzir no Google as palavras " Paulo Rebelo TVI " e verificar os resultados. No site " apostaganha " o tópico relativo ao tema tem cerca de 2200 comentários. Polémicas à parte devo dizer que a reportagem começou a desenhar-se há mais de um ano atrás por causa dos fortuitos encontros para uns jogos de futebol à noite,