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A mostrar mensagens de abril, 2010

Paragem de autocarro

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Quando chegou à paragem do autocarro, a caminho do emprego na fábrica de confecções, ainda não estava completamente desperta. Mas mal os olhos bateram na parede sentiu um choque que lhe acordou o corpo todo. Ele cumpriu a promessa que tinha anunciado na noite anterior, no meio do turbilhão de carícias, na penumbra da paragem do autocarro: "Amanhã vou fazer-te um convite." Foi um dia estranho. O tempo parecia uma lesma; o coração um cavalo selvagem; o pensamento uma barata tonta. No regresso a casa não saiu, como era hábito, na paragem mais próxima de casa. Foi ele que entrou no autocarro. E seguiram até ao fim da linha... (Paragem de autocarro em Sobretâmega, Marco de Canaveses)

Amo-te puta...

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A Liberdade conduzindo o povo, Eugène Delacroix, 1830 Conheci a Liberdade era eu um miúdo e ela uma jovem inocente e frágil. Acabava de ser autorizada a sair à rua depois de 48 anos de cativeiro. Esteve prisioneira da velha senhora e ninguém a viu durante esse tempo de ditadura. Foi a revolução de Abril quem lhe desembaraçou a mordaça, cortou os grilhões e a ofereceu, virgem, ao povo. Ingénua, ansiosa, vestida de coragem, a menina-mulher Liberdade logo encaixou um cravo revolucionário no talvegue dos seios e saiu à rua, guiada pelos ventos da mudança que esvoaçavam os cabelos compridos. À primeira aparição do anjo libertador apaixonei-me. Vi-a como possível mãe da democracia prematura e, num assomo de emoção, propus-lhe namoro e casamento. A Liberdade logo disse que sim, camuflando o compromisso da fidelidade na promessa de vivermos, daí em diante, felizes para sempre. Pobre de mim! A suprema excitação da Liberdade levou-a a aceitar todos os convites. Desforrou-se de uma vida