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A mostrar mensagens de junho, 2011

A ponte dos desejos

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Tudo o que mais queria estava a acontecer. O meu desejo era que o agora fosse sempre. Afinal, estava ali a prova da possibilidade. Sei hoje que devia ter pedido a eternidade quando a luz do flash iniciou o caminho para o universo estrelado que cobria a cidade. Procuro agora nas fotografias a essência das almas fundidas. Amplio os olhares, as carícias, os abraços e os beijos que a velha ponte protegeu para que não que caissem ao rio. A essência está lá. Prisioneira do tempo e do espaço à espera que os amantes acreditem na sua evidência. Há um ano esqueci-me de desejar que o agora fosse sempre. Hoje só quero que o agora seja nunca. Que falta me faz a ponte dos desejos. E a luz do teu olhar.

Uma parte de mim morreu há dez anos

"(...) quando perdemos alguém que nos conhece bem perdemos uma versão de nós próprios. Nós próprios, tal como éramos vistos e julgados. Amante ou inimigo, mãe ou amigo, aqueles que nos conhecem constroem-nos e os seus conhecimentos talham as diferentes facetas dos nossos caracteres como se fossem ferramentas para lapidar diamantes. Cada uma destas perdas é um passo mais para a sepultura, onde são engolidas todas as nossas versões." Esta passagem do livro " O chão que ela pisa", de Salman Rushdie, faz-me sempre lembrar o meu pai. Morreu faz este mês dez anos. Há uma versão de mim que desapareceu com a morte dele. E era uma versão francamente admirável. Hoje precisava, mais do que nunca, que ele tivesse continuado a ser o que sempre foi para mim. Eu precisava que ele continuasse a ser.

Amor profundo

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Perdido. Sem ti estou perdido. Perdido à tua procura. Quero fugir desta vida deambulante onde cada coisa me fala de ti, cada gesto me lembra de ti, cada imagem se parece contigo, cada som provoca um eco resposta da tua voz, em que até os aromas te materializam. Estou doído desta virtualidade em que nada faço sem considerar as tuas reacções intuídas, as tuas expressões características, os teus desejos mais intensos, as tuas reticências mais sábias... Não sei viver como se estivesses comigo. É penoso não sentir qualquer prazer a não ser na medida em que o pressentimento e a partilha do teu prazer é que lhe daria sentido. Perdido. Sem ti estou perdido. À tua procura. Vou embora. Vou apanhar o comboio com destino ao Porto, para depressa chegar ao mar e seguir para o mundo. Vou procurar-te longe e deixar um rasto deste amor sem fim em todos os sítios onde um dia também hás-de passar. Até eles já me levam a ti. Pertenço-te. Amo-te Joana. Muito. Profundamente. Muito profundamente.

Cabo Ledo - Angola

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Cabo Ledo fica a cerca de 120 quilómetros a sul de Luanda. Reduzindo a tempo, está a quatro horas de viagem se o trânsito na periferia da capital angolana só estiver caótico e não parado. No meio do nada há um restaurante e uma pequena amostra do paraíso. Uma surrealidade. A árvore nasce no rebentamento das ondas e o cão não é um bibelot. Angola não existe, mas surpreende.

Olhos nos olhos

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O olhar dos angolanos é como a alma dos puros. Deixa ver para dentro. E há nele uma fé angustiada no futuro. Uma força magnética que atrai e repele. Uma energia incómoda com aparência de acusação. Um medo cósmico que sustenta a vida. Uma calma tensa que aguenta quase tudo. Angola está a meio caminho. Entre a implosão e a explosão. Entre a guerra e a democracia. Entre a riqueza de uns poucos e a indigência do resto. Entre o ser e o querer. O olhar dos angolanos é a melhor definição do país. Há nele a esperança e pânico. Angola não existe. É como a alma dos puros.