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A mostrar mensagens de agosto, 2011

Amor sofrido

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Calçada em Guimarães Sofri, porque sofri em silêncio. Sofri, logo que percebi que tu eras o meu íman. Sofri, com a atracção física de pólos iguais. Sofri, com a barragem que ergui aos meus sentimentos. Sofri, com a angústia que me enchia o peito e me tapava a boca. Sofri, e eu a querer dizer-te: amo-te Flávia. Sofri, com as noites em que saciei meu corpo imaginando que era o teu. Sofri, com a tua proximidade. Sofri, com a tua ausência. Sofri, quando te abracei como amiga e continuei abraçada como amante. Sofri, quando te beijei pela primeira vez. Sofri, quando te beijei pela segunda. Sofri, no teu corpo. Deixei de sofrer quando disseste: Eu amo-te Adriana. Sofri e venci...

Frozen Love

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I loved you when you opened Like a lily to the heat You see I'm just another snowman Standing in the rain and sleet Who loved you with his frozen love His second hand physique With all he is, and all he was A thousand kisses deep But you don’t need to hear me now And every word I speak It counts against me anyhow A thousand kisses deep A ausência induziu o nosso amor em coma profundo. Vítima do tempo, mártir da mais pura devoção, doente de um excesso sem esperança, moribundo do exagero da inocência. Ligado às máquinas, o meu coração bombeia um mosto de tristeza, uma borra de angústia, como se fosse ainda o néctar escarlate da paixão que nos corria nas veias. Não há transfusão nem doacção que o socorra. Era teu o sangue que alimentava os meus circuitos vitais; era meu o ar que respirava o teu peito; era nossa a pele que o desejo vestia. Estou morto por fora. Vivo da iminência desse amor puro e intacto que ainda lateja. Escapam-se os dias por entre o

O guardião do castelo

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O guardião do castelo de Montalegre é inexorável. Ninguém entra nem sai sem pagar uns afagos ao rafeiro.

A noite tem os olhos abertos

A noite arregalou-me os olhos, chamou-me a atenção e obrigou-me a ficar ali a fazer-lhe companhia. Tem sido assim nos últimos tempos. Está cada vez mais carente, melindrosa e solitária. Espera-me sempre com os braços abertos, tece-me uma rede de carícias e envolve-me numa falsa modorra. Entrego-me sem resistência e fecho os meus olhos, deixo-me levar. Engana-me. Eis que desperta, escarninha, enérgica, revolta em pensamentos, memórias e desejos. Resolve problemas, antecipa cenários, idealiza situações, faz felicidade, inventa vida, ressuscita pessoas e faz diálogos. Usa-me como brinquedo novo em mãos de criança. Rebolo inutilmente. Procuro posições de conforto. Finjo-me de morto. Na inutilidade de passar despercebido, tento desaparecer na nuvem dos cigarros sucessivos. Sopro-lhe fumo para os olhos. Ela ali está, vestida de negro desafiante, de pálpebras dilatadas. Sei que me vai trair. Finge que está à minha espera para a companhia do costume, mas apenas aguarda o amante fantasma d

D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal: "A Igreja transformou-se mais em empresa do que em testemunho"

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Já lá vão sete anos desde a última entrevista de D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, ao Solidariedade , mas parece que foi ontem. Para esta conversa, marcou encontro exactamente no mesmo sítio, na casa onde mora, junto ao estabelecimento prisional de Custóias, recebeu-me com a mesma simpatia e, valha a verdade, não se nota que por ele tenha passado tanto tempo. - Já vim à porta várias vezes a ver se o via. É que eu levanto-me muito cedo, já dei o meu passeio de bicicleta e contava consigo mais cedo, conforme tinha avisado. Esfarrapei uma desculpa enquanto fazia contas de cabeça. Devia ter-se levantado por volta das cinco ou seis da manhã. Pratica a mesma jovialidade, usa da mesma forma a boa disposição e a simpatia e não dá descanso à lucidez inteligente com que conduz todas as conversas. O escritório quase estava igual. Mais desarrumado, talvez. Na parede do fundo o mesmo retrato pintado no período em que lhe chamavam bispo vermelho, num tempo em que os governantes tin