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Massagem

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São tuas as mãos que desvendam a orografia do meu corpo. Imagino-as na languidez do meu descanso disfarçado de sono. Sobem, coordenadas, as montanhas suaves e moldam-se dolentemente à vista dos ombros. Desenham-me. Escalam o pescoço para se embrenharem na floresta dos cabelos abandonados. Sabes-me de cor e fazes questão de mostrar que conheces bem os sítios mais recônditos e secretos. Revolves as raízes dos músculos e alisas a crosta com o arado dos teus dedos. A minha pele transforma-se em terra lisa. Ora planas como um condor perscrutando a paisagem; ora afundas o calor das tuas mãos na minha carne fremente. Tens gestos de feiticeiro e eu corpo possuído de mulher carente. Despes-me agora o cálice de pano que simula protecção à última fracção de intimidade. A nudez do meu corpo recebe a avidez suave das tuas mãos. Desfruto da ondulante lavoura fingindo torpor. Dás atenção aos meus pés esquecidos; ao lado de trás dos meus joelhos; às envergonhadas axilas; exploras o desfila

Nas nuvens...

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  Contigo Acordo na manhã de oiro entre o teu rosto e o mar. As mãos afagam a luz, prolongam o dia breve. Entre o teu rosto e o mar ninguém deseja ser neve. Ninguém deseja o veneno da noite despovoada. Acorda-me a tua voz, nupcial, branca, delgada. Eugénio de Andrade      

Deixa-me...

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Deixa-me que te fale desta morte por dentro. Deste perecer lento e doloroso que nenhum consolo é capaz de suavizar. Como se fosse uma podridão viva que invade o sistema vital e o transforma numa rede de esgotos. Desse lugar da esperança onde agora vinga um sentimento purulento, triste e destrutivo que esvazia tudo de sentido. Deixa-me que te descreva este deserto que soterra memórias encharcadas em dor e sofrimento longo. Sabes que algo te morre quando nada renasce nesse lugar. E pior que tudo: Sentes que fenece em ti mas está a germinar algures. Deixa-me que te mostre a presença obsessiva desta ausência, deste vazio, desta incerteza. É a morte como doença prolongada. Vence-te a vontade, verga-te a razão, tortura-te a memória, domina-te a imaginação, esvai-te a energia, faz-te fantasma. Morres lentamente a desejar o grande esquecimento e só tens a dor eterna de uma parte amputada que desapareceu mas ainda existe. Imploras uma morte súbita sem a maldição da imortalidade das re

Tempo

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O futuro é a razão do presente. O presente é a construção do passado. O passado é a sustentação de tudo. Nele residem as versões que a memória guarda do que nos aconteceu. Todo o passado é incerto.

Morte em beleza...

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Dança caprichosa de luz no palco das nuvens. Crepúsculo orgiático de cores. Caleidoscópio. Instante frágil. Deslumbramento fugaz. Noite longa. Tristeza persistente.  Morte em beleza.