A primeira vez de Lisa Ekdahl em Portugal
Se eu tivesse muito dinheiro contrataria a sueca Lisa Ekdahl para me adormecer nas noites mais difíceis. Não adormecia, que aquela voz que lhe sai da alma possui-nos inteiros, mas aproveitava o tempo. Como não tenho posses para tamanha extravagância vi-me na contingência de aceitar uma oferta do último bilhete, na última fila da grande sala Suggia da Casa da Música, no Porto. À minha frente mais de mil silhuetas separavam-me da campesina que entrou em palco, vestido às florinhas, chapéu de donzela, botas de jardim elegante. Disse “obrigada” e agradeceu ao público a comparência em massa na primeira vez que vem a Portugal. E cantou. Os temas do costume e alguns originais a incluir no próximo álbum. Dedicou um desses temas, “One Life”, ao novo presidente dos Estados Unidos. E cantou com aquela voz que se entranha como uma obsessão. Na descoberta do seu próprio caminho, à medida que acumula versões dos temas clássicos do jazz, vai despindo a banda de sonoridades típicas do jazz. Da bateria sobram uns minúsculos pratos; da trompete, do piano e do orgão soam breves solos; das guitarras solfejam sublinhados sonoros, numa aclamação essencial da voz incomparável. Faltou “It’s oh so quiet” para que a noite fosse completa. Se eu tivesse muito dinheiro…
(Fotografia - Estela Silva)
(Fotografia - Estela Silva)
Comentários
Um cumprimento da fila do meio!
Mariana Couto*