A curva do amor

Andou a matutar na frase dias a fio, como se fossem anos. Acabou por encontrar a fórmula absoluta. Nome, vida, paixão, amor, eternidade. Só faltava o suporte para a declaração mais completa do mundo. A última curva antes dela chegar a casa pareceu-lhe o mais adequado. Todos os dias havia de dar de caras com o mandamento que lhe comandava a existência. As paredes da casa abandonada, em ângulo obtuso a marginar a rua, assemelhava-se a um
post-it gigante. Não poderia ignorar.
E Cláudia não ignorou... Da primeira vez que a frase gigante lhe entrou pelo pára-brisas dentro perdeu o controlo do carro e embateu violentamente no muro à saída da curva. Aquela paixão desmedida um dia acabará por matá-la, pensou. Mas, ainda que tal venha a acontecer, aquele amor é como um seguro de vida: também inclui a eternidade...
Rua das Condominhas, Porto

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