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A mostrar mensagens de novembro, 2007

Quartos de hotel

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Gosto de quartos de hotel. São como estações de comboio. Ou estações de serviço. Ou plataformas de aeroporto. Ou oásis no deserto. Ou ilhas no oceano. Pontos de paragem. Pontos de passagem. Zonas de transferência. Início. Fim. Mudança. São espaços para onde se leva apenas o essencial. Nós. E de onde se traz, reforçado, o que se levou: A memória, os sonhos e as expectativas. Os quartos de hotel são telas em branco onde se pintam as noites; são parêntesis onde se explicam enredos; são momentos por onde passam vidas inteiras; são cápsulas herméticas que param o tempo ou o aceleram a um ritmo alucinante. Os quartos de hotel são sítios que não existem. Está-se mas não se fica. Nos quartos de hotel o mundo fica lá fora e a vida lá dentro. Perfeita. Todos iguais, mesmo os que se chamam suites, servem de cenário ideal para as mais diversificadas histórias. Até para a ausência delas. Morrer. Os quartos de hotel são mistérios insondáveis. Não se sabe o que aconteceu na noite anterior, nas noites

MORTE EM VENEZA

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( Veneza à noite, 02 de Setembro de 2007) De muitas coisas se pode morrer em Veneza De velhice de susto de peste ou de beleza Jorge Sousa Braga in O Segredo da Púrpura

O senhor doutor é um… troglodita.

Do baú da memória retiro um episódio divertido que adocicou uma longa entrevista radiofónica que derrapava irremediavelmente para os domínios do tédio. Assumo que o desgaste provocado pelo tempo não me permite referir pormenores identificadores mas, mesmo que não estivessem truncados pelos 15 anos que lhe passaram por cima, por uma questão de reserva profissional e pessoal não os revelaria. Foi na Rádio Nova, do Porto, durante um programa de entrevista de uma hora, a um determinado convidado, conduzido por uma colega. Não digo mais nada. Decorria a conversa no tom de informalidade que a rádio consente e os temas da grande actualidade já estavam esgotados. A dada altura o convidado referia experiências passadas no estrangeiro provocando na jornalista uma súbita curiosidade: - Mas, afinal, quantas línguas é que o doutor fala? - Ao todo são cinco: português, francês, inglês, espanhol e russo. A entrevistadora ficou visivelmente (na rádio conseguimos “ver”) impressionada. E, conforme acons
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O cão é o melhor amigo do homem. Qualquer que ele seja! (Sem- abrigo, rua de Medellín, Colômbia, 20 de Setembro de 2007)

Coisas do Arco da Nova

Para recordar um senhor da r�dio: Jos� Gabriel

COISAS DO ARCO DA NOVA

Apesar de todas as mudanças de casa e de vida há coisas que levamos sempre connosco sem darmos conta. Aqui há dias encontrei uma caixa cheia de cassetes perdida num velho armário. Descobri alguns tesouros com quinze anos. Entrevistas e programas feitos para a Rádio Nova, do Porto, 98.9 FM. Seis dessas cassetes estavam referenciadas: “Coisas do Arco da Nova”, numa letra perfeita escrita à mão pelo inconfundível Zé Gabriel. Com a ajuda do Paulo Moura , outro mago do audiovisual, recuperei para suporte digital algumas das relíquias dessa arqueologia radialista. E nessa noite revivi anos de companhia leal e trabalho profícuo que me ensinou muito do que hoje julgo saber. O Zé Gabriel era um ourives do som. Usava a tesoura para rendilhar a fita magnética. Construía peças radiofónicas, tecendo a voz com elementos sonoros, pontos musicais e silêncios mercê de uma sensibilidade de feiticeiro que deve ter assimilado na Rádio Nacional de Angola, onde trabalhou muitos anos. Tinha um aspecto e uns

COISAS DO ARCO DA NOVA

Coisas do Arco da Nova- Victor Pinto e Z� Gabriel

CRISTO TE AMA?

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A fotografia podia ter custado a vida, mil e quinhentos dólares ou a máquina fotográfica que a captou. Ficou por 50 mil pesos colombianos. Foi barata, muito barata. Há uma zona na cidade de Bogotá, chamada Cartucho, que é considerada um dos sítios mais perigosos da Colômbia. Já de malas feitas para o regresso a Portugal, enquanto aguardávamos o táxi para o aeroporto, lembrei a Alberto Parra que faltava a foto da rua onde todo o tráfico é permitido e ininterrupto, situada mesmo em frente à residência provincial onde tínhamos pernoitado. Alberto Parra é um antigo toxicodependente que conseguiu a recuperação e trocou a vida ligada ao cinema e às filmagens pela de formador e educador nos Hogares Claret, Bogotá, onde ajuda crianças e jovens cocainómanos a fazerem o que ele fez. A tal rua de Bogotá é uma lixeira humana. Corpos espalhados pelo chão, comércio de bugigangas, consumo de drogas, crianças, animais, miséria, tráfico, música, dinheiro, lixo, tudo se mistura em dosagens diferentes du

Solo de violino

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De rua em rua, de restaurante em restaurante, de mesa em mesa, o tocador de violino romeno - quase de certeza - vende caprichos de Paganini e até de Rachmaninov executados de fugida, entre a ordem de expulsão e o toque da moeda no fundo do bolso. Na pausa da via sacra musical pela Ribeira descansa o olhar na faina dos pescadores de taínha nos esgotos da cidade e sorri... Naquela postura parece um músico a sério procurando inspiração para o próximo capricho.