Mensagens

A mostrar mensagens de 2009

A poesia da obscenidade

No Púcaros acontecem coisas. Inesperadas. Divertidas. Provocatórias. Apaixonadas. Insólitas. Anedóticas. Poéticas, sobretudo poéticas. E como podem constatar há poesia em quase tudo.

Púcaros de Poesia

Já aqui escrevi as sensações da imersão nas noites do Púcaros onde a poesia faz de líquido vital. Agora transformei as noites poéticas do bar portuense de Miragaia em peça televisiva de jornal de grandes audiências. Para provar que as coisas simples, pequenas e essênciais também podem chegar à caixa negra por onde, dizem, só costumam passar desgraças.

Branford Marsalis tocado por Amália Rodrigues e vice-versa

Imagem
O Guimarães Jazz, prestando homenagem aos 50 anos do disco “Kind of Blue” (1959) considerado o melhor do jazz, reuniu no mesmo cartaz alguns dos mais conceituados músicos a nível mundial. Jimmy Cobb, o baterista de “Kind of Blue”, abriu as portas à saudade; Hank Jones, pianista em algumas formações de Miles, foi a história em pessoa. Em vez da saudade e da história, optei pelo futuro. Na impossibilidade de ir a todos escolhi o concerto de Brandford Marsalis Quartet. Casa cheia no Centro Cultural Vila Flor. Brandford Marsalis ofereceu generosamente os temas do último álbum “Metamorphosen”, deixando brilhar a banda. Quero sublinhar apenas alguns gestos do saxofonista norte-americano: Foi magnânimo na duração do concerto; Tentou sempre falar português; No final presenteou a audiência com o tema “Foi Deus” de Amália Rodrigues com um solo notável de saxofone soprano, simplesmente sublinhado pelo baixo e piano; e, de saída, apresentou um medley de música do Luisiana, uma espécie de regresso

Delirante!

Vejam este sketch. Sem preconceitos. Nem formatações. É uma representação delirante de Pedro Alves (Zeca Estacionâncio) e João Paulo Rodrigues (Quim Roscas) no intragável Praça da Alegria da RTP, em Abril de 2008. O exercício de humor desenvolvido por aquela dupla, naquela altura, tinha algumas características curiosas: a minuciosa recriação de uma localidade - Curral de Moinas -, relevando com exagero, a ruralidade com tiques de progresso adaptado; a caricaturização dos trejeitos dos piovots dos jornais televisivos; a crítica aos critérios jornalísticos através da adaptação desses critérios, vigentes no país das notícias, aos acontecimentos de Curral de Moinas; a crítica social e de costumes sempre presente no texto delirante. Esta prova de vinhos é do melhor que se pode ver. Na net que no meio da Praça da Alegria, ou no actual formato, em horário nobre, não faz qualquer sentido.

E à página 82 Saramago descansou!

Imagem
(...) O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arreigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia de viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abrão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narador desta históri

Está bem assim?

Imagem
Vadio e meigo. O gato siamês orfão teve a sorte de ter nascido cheio de graça. Não morreu vítima da ordem que rege a sobrevivência das espécies e foi adoptado. Inocente, retribui a ventura com uma graciosidade espontânea interagindo com os humanos como se fosse um deles. A beleza sobrevive mais ao infortúnio. Darwin devia saber disso... Quem é capaz de maltratar um olhar como este?

Estrelas ascendentes

Imagem
Cada um dos símbolos sanjoaninos cumpre uma função na noite mais longa do Porto. Não se imagina o S. João sem os ruidosos martelinhos, sem a graciosidade do alho-porro, sem os aromas do mangerico, sem o céu estrelado de balões. Não há noite de S. João sem as estrelas ascendentes que transportam os sonhos de milhares de portuenses e os incendeiam perto do céu…

Pistoleiro Ronaldo

Imagem
Ainda que a inteligência se tenha alojado nos pés de Cristiano Ronaldo não consigo descortinar a ideia que lhe passou pela cabeça quando decidiu aparecer aos jornalistas e, portanto, à Península Ibérica, com uma t-shirt com um revólver estampado. Pode pensar-se que a exibição do ícone não tem qualquer relevância, mas a teoria cai pela base quando se sabe quanto custa a utilização publicitária de um qualquer recanto do corpo do melhor jogador de futebol do mundo. Pode, de facto, não lhe ter passado nada pela cabeça e ter pegado na t-shirt armamentista que estava mais à mão. Mesmo assim, alguém do séquito de familiares e amigos devia tê-lo avisado que o símbolo não seria apropriado. Tendo a pensar que não foi inocente. Cristiano Ronaldo, depois das aventuras na América com a Paris Hilton, resolveu vir descansar para o Algarve. Os fotógrafos e jornalistas acamparam à porta da milionária mansão à espera de novidades, incomodando a tranquilidade do craque. Depois do incómodo ter dado azo à

Partido da abstenção

O dado mais interessante das eleições europeias, em Portugal, é o valor dos votos em branco: 4,63%. Mais de 160 mil eleitores deram-se ao trabalho e ao incómodo de se dirigirem à sua mesa de voto, simularem o preenchimento do boletim, com a respectiva cruzinha, e fingirem, no momento de enfiarem o voto na ranhura, que no papel dobrado estava o rabisco cruzado da escolha. Acho todo este comportamento indigno. Os eleitores merecem mais respeito. Se não fosse a obrigatoriedade deste comportamento mentiroso, muitos mais teriam votado no não voto. Por isso proponho desde já a formação de um novo partido que redima da vergonha os não votantes militantes e eleja os deputados a que tem direito: PA - PARTIDO DA ABSTENÇÃO. Afinal de contas, mesmo sem qualquer campanha, seria já a sexta força partidária do país. E tem espaço para crescer.

Púcaros de Poesia

Imagem
É um bar, em Miragaia, no Porto, e não sei porque se chama Púcaros. O nome faz lembrar, quando muito, um restaurante. A alusão ao significado copo é a ligação mais directa ao espaço nocturno. Pode ser que por aí se faça a conotação. Mas, normalmente, púcaro é um copo para tirar água. Bem, talvez aluda ao local onde se descobrem verdades escondidas, o sítio onde os nabos se tiram do púcaro, ou da púcara. Não faço ideia porque se chama assim ainda para mais sendo um bar onde, às quartas-feiras, a poesia anda à solta pelo meio dos sentidos, sentimentos, corpos e copos... É isso!!! Púcaros são os recipientes usados pelos estranhos seres que frequentam o bar, nesse dia, para tirar sorvos poéticos do poço da literatura. Eles são bruxas, elfos, vampiros, gnomos, ninfas, unicórnios, querubins, anjos, lobisomens e outros que tais, disfarçados de gente comum. Eles devem ter obrigado o Carlos a chamar-lhe assim para que lhes sejam servidas as poções mágicas do pote da sangria. O Carlos é o dono d

A magia de Serralves

Serralves. Arte. Criatividade. Competência. Imaginação. Cultura. Escola. Vida. Um filme que é um pequeno exemplo de como, na animação, se pode, e deve, aprender fazendo. Serralves. Magia.

Azul outra vez!

Imagem
Os rios de gente pintalgada de azul desaguavam nas entradas do estádio do Dragão. O amor ao clube pôs-se à janela. Moldou-se em peças de roupa, chapéus de todos os feitios, pinturas faciais, bonecos, bandeiras, cachecóis. Tudo serve para demonstrar o orgulho de ser portista nas vésperas da confirmação do tetracampeonato do F. C. do Porto. Ricardo atou o cachecol à cabeça. Dava-lhe um ar de pequeno adepto e fingia de protecção contra os pingos de chuva. Com apenas dez anos é portista desde pequenino. Vive mesmo ao lado do estádio do Dragão. Com o jogo prestes a começar, a verdadeira mostra de fé no clube estava no azul dos olhos. Reflectiam a cor dominante da multidão apressada, misturada com uma angústia muito mal diluída. Estava à porta de um desejo. E não tinha bilhete para testemunhar a conquista do título. -Gostavas de ver o Porto, hoje, não gostavas? - Pois gostava. Só fui ver o Porto duas vezes. Perdeu uma e empatou outra. Mas vamos ser campeões outra vez. Isso é que interessa. T

Covão da Ametade

Imagem
É uma daquelas paisagens que toda a gente fotografa. O Covão da Ametade é um parque da Serra da Estrela, atravessado pelo Rio Zêzere, em breve repouso, antes de se precipitar pela íngreme encosta. Já vi este lugar mágico pintado de branco, de cores pastel, de outono, de amarelo queimado. Aí fica em azul gélido...

A Serra é uma Estrela

Imagem
No inverno o mais frequente é que esteja com as veias de acesso cortadas, sobretudo as que levam confortavelmente até à torre. Cortadas por aneurismas gigantes de neve que coagula as lagoas, riachos, estradas, caminhos e passagens. No rigoroso inverno a Serra entra em coma; em hibernação alva e fria. Liberta-se do entorpecimento aos primeiros raios de sol da primavera. E é vê-la a despir-se lentamente do véu e das grinaldas de gelo, adoptando decotes de verde para tapar o corpo da terra por onde escorre o suor da neve derretida. A Serra é uma estrela...

Não deixem fechar a porta

Imagem
Muita gente se queixa do esvaziamento a que, de ano para ano, é votada a memória da revolução do 25 de Abril de 1974. É sinal de que os que tiveram algum contacto com a mudança de regime estão a ficar velhos. Por mim falo que, na altura com 11 anos, me recordo apenas dos dois helicópteros militares que subitamente usaram o campo de futebol da nossa escola como pista de aviação. E sei que a primeira palavra que aprendi do novo léxico da democracia foi “greve”. O resto foi absorvido na derrocada da barragem da informação. As palavras da rádio e dos jornais narraram uma revolução quase sem mortos e feridos e com poucas imagens. Sobreviveu o sangue dos cravos como símbolo de uma mudança profunda no país. 35 anos depois, parece ser preciso regar a flor da revolução. Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra. (…) Ora passou-se porém que dentro de um povo escravo alguém que lhe queria bem um dia plantou um cravo. Era a semente da esperança fe

O cheiro dos alhos

A propósito do enriquecimento ilícito e da possibilidade de levantamento do sigilo bancário, para o identificar e combater, ofereço-vos o melhor comentário que ouvi. Foi num programa de rádio, uma senhora indignada, da zona centro do país, explicando que se trata de um aforismo. Nunca o tinha ouvido, mas que faz todo o sentido, lá isso faz: - Quem não come alhos não cheira a eles!

"Mankind Is No Island"

O Tropfest é o maior festival de curtas metragens do mundo. Começou há 17 anos atrás em Sydney e no ano passado teve a sua primeira edição em Nova Iorque. O vencedor do ano passado foi este filme simples e original, totalmente gravado com um telemóvel. O seu orçamento foi de 40 dólares (cerca de 30 euros)! Vale a pena ver até ao fim.

Manuel José - O Rei do Egipto

Se me tivessem contado, ou não teria acreditado ou teria acreditado com muitas reservas. A reportagem que me foi proposta era sobre a invulgar popularidade no Egipto de Manuel José, treinador de futebol, português. O que vi ultrapassou todas as expectativas. Não são só os adeptos do Al Ahly que adoram Manuel José. Todo o Egipto gosta do treinador português. É uma das personalidades mais populares e respeitada no país das pirâmides. O futebol é a razão primordial. Mas a fama já ultrapassou tudo o que se possa imaginar. Manuel José é um rei no Egipto…. Esta é a reportagem TVI que resultou dessa experiência de uma semana. Só visto!!!

Manuel José - O Rei do Egipto

O regresso à origem?

Imagem
Das poucas recordações que tenho do “antes do 25 de Abril de 1974” emerge um episódio caricato revelador do poder discricionário que alguns agentes da administração pública tinham nessa altura. Um presidente da junta, numa aldeia do interior onde a minha família vivia, chamou a GNR porque a minha mãe deixou cair a filha do ilustre senhor. Veio a GNR, de imediato, e lembro-me da minha mãe, em lágrimas, a explicar o sucedido enquanto os militares registavam a ocorrência. O caso não chegou mais longe porque a filha do regedor, com quem eu costumava brincar, nem nódoas negras apresentava como provas de incúria ou mau trato. Nos tempos que correm, nesta adolescente democracia portuguesa, o mais comum é o contrário: mesmo alguns acontecimentos graves e atentados à ordem pública e à segurança são tratados com desdém, desconsideração e ausência pelas autoridades policiais. Chama-se a polícia e ela ou não chega ou vem tarde, a más horas e somente regista a ocorrência. Por isso, é estranho o que

Fatal como o destino

Enganei-me. Falhei nas previsões feitas, em 19 de Junho de 2008 , a propósito de Scolari. Ele não foi despedido no Natal, mas apenas em Fevereiro; e não ingressou, ainda, no Benfica por culpa da irregularidade do F.C. do Porto. O que o povo diz também se aplica a esta previsão: mais vale tarde que nunca!

Dias morrinhentos

Arquear-me dolentemente ao sabor das tuas carícias. Esfregar-me nas tuas pernas. Trepar-te para o colo e ronronar de prazer. Enroscar-me na modorra de conforto. Levitar nas asas de uma preguiça irresponsável. E sussurrar apenas suspiros de perfeição. Há dias pardacentos e morrinhentos, como o de hoje, em que apetece ser gato. Miau…

O Natal é todos os dias

Imagem
O ritual tinha-se instalado de forma imperceptível. Todas as noites o pai entrava no quarto do filho para ler uma história ou um capítulo de um livro em jeito de boa noite. O petiz habituara-se rapidamente a viajar pelas paisagens dos contos infantis, ao som da voz pausada e agradável do pai. Tinha agora dez anos e a memória estava povoada com as histórias clássicas do capuchinho vermelho, dos três porquinhos, da bela adormecida, as fábulas de La Fontaine, dos tradicionais contos portugueses e outros que a fome da curiosidade teimava em consumir. De ávido ouvinte passou também a interessado contador, alternando com o pai na leitura das narrativas. Vezes sem conta o enredo era transformado em texto teatral, fazendo ambos a devida interpretação das personagens, por recurso à imaginação, para gaúdio dos participantes é, às vezes, dos familiares espectadores. O Natal e os aniversários costumavam ser um mercado de abastecimento de material para as noites de leitura. Os livros eram prendas h