Quartos de hotel
São espaços para onde se leva apenas o essencial. Nós. E de onde se traz, reforçado, o que se levou: A memória, os sonhos e as expectativas.
Os quartos de hotel são telas em branco onde se pintam as noites; são parêntesis onde se explicam enredos; são momentos por onde passam vidas inteiras; são cápsulas herméticas que param o tempo ou o aceleram a um ritmo alucinante.
Os quartos de hotel são sítios que não existem. Está-se mas não se fica. Nos quartos de hotel o mundo fica lá fora e a vida lá dentro. Perfeita.
Todos iguais, mesmo os que se chamam suites, servem de cenário ideal para as mais diversificadas histórias. Até para a ausência delas. Morrer.
Os quartos de hotel são mistérios insondáveis. Não se sabe o que aconteceu na noite anterior, nas noites anteriores, e quem lá esteve há um ano atrás, e quem eram as pessoas, e porquê? Não importa. Num quarto de hotel não há passado nem futuro. Tudo se vira para dentro de nós. Só presente contínuo.
Os enredos que se perdem num quarto de hotel… E os que se urdem por inspiração no som dos quartos contíguos: As vozes, os barulhos, os silêncios, as portas a bater, a água, os ruídos das camas…
Consigo imaginar-me a viver em quartos de hotel. Viver em trânsito, em viagem pela vida. Há quartos de hotel onde me sinto em casa…
Comentários
Cristina