Quartos de hotel

Gosto de quartos de hotel. São como estações de comboio. Ou estações de serviço. Ou plataformas de aeroporto. Ou oásis no deserto. Ou ilhas no oceano. Pontos de paragem. Pontos de passagem. Zonas de transferência. Início. Fim. Mudança.
São espaços para onde se leva apenas o essencial. Nós. E de onde se traz, reforçado, o que se levou: A memória, os sonhos e as expectativas.
Os quartos de hotel são telas em branco onde se pintam as noites; são parêntesis onde se explicam enredos; são momentos por onde passam vidas inteiras; são cápsulas herméticas que param o tempo ou o aceleram a um ritmo alucinante.
Os quartos de hotel são sítios que não existem. Está-se mas não se fica. Nos quartos de hotel o mundo fica lá fora e a vida lá dentro. Perfeita.
Todos iguais, mesmo os que se chamam suites, servem de cenário ideal para as mais diversificadas histórias. Até para a ausência delas. Morrer.
Os quartos de hotel são mistérios insondáveis. Não se sabe o que aconteceu na noite anterior, nas noites anteriores, e quem lá esteve há um ano atrás, e quem eram as pessoas, e porquê? Não importa. Num quarto de hotel não há passado nem futuro. Tudo se vira para dentro de nós. Só presente contínuo.
Os enredos que se perdem num quarto de hotel… E os que se urdem por inspiração no som dos quartos contíguos: As vozes, os barulhos, os silêncios, as portas a bater, a água, os ruídos das camas…
Consigo imaginar-me a viver em quartos de hotel. Viver em trânsito, em viagem pela vida. Há quartos de hotel onde me sinto em casa…

Comentários

Anónimo disse…
A tua descrição dos quartos de hotel é fantástica.

Cristina
Anónimo disse…
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