Outono no charco

De todas as vezes, e foram muitas, que passei naquele local senti-me possuído, ainda que por instantes, por uma sensação de perfeito e quieto equilíbrio. Desta vez parei. O Outono estava acampado naquele canto recôndito da estrada de paralelo. Há uma mesa de pedra a convidar para um encontro com a natureza. E há um pequeno charco à saída da mina onde se afogam as folhas esvoaçantes de plátano. No cemitério outonal decorria uma cerimónia tocante. Na linha do reflexo uma folha de plátano dava a mão a uma pequena folha caída de um carvalho enquanto um sopro de vento as atravessava para outra margem. Salvaram-se ambas, apesar do sussurro atraente das almas no fundo do charco e da miragem azul do céu a indicar um caminho errado. Saí, pé ante pé, sorrateiro e envergonhado, como uma testemunha acidental. Senti nos pés as queixas do outono esmagado pelo meu peso. Desfez-se o equilíbrio. Volto na primavera...

Comentários

anaas disse…
lindo, tocante. dá que pensar essa complexidade das coisas simples.
Anónimo disse…
Hello trata-se a 1ª vez que li o teu blog e reflecti muito!Bom Projecto!
Adeus

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