Ilha dos amores


Fontaínhas, Porto

Quem foi semeado no Porto, e criou raízes por entre as ranhuras graníticas das calçadas, sabe que existem ilhas na cidade. Ficam anonimamente escondidas atrás das ruas cujo nome está pendurado na lapela dos prédios das pontas. São oásis de gente, aninhados numa pobreza vaidosa e honrada onde as carências de água, saneamento, espaço e conforto são disfarçadas com um desvelo e arrumo de fazerem inveja aos palácios das avenidas.
A cidade tem vergonha das ilhas e dá mais antenção aos bairros sociais berrantes e complicados. O tempo e a cidade monstro afunda-as e devora-as lentamente.
As ilhas eram lugares de partilha. De portas abertas, de vizinhanças interessadas, de brincadeiras comuns, de ajudas, de ódios e amores.
Do arquipélago das Fontaínhas já pouco resta. Por isso, esta improvisada ilha dos amores mais não é do que uma homenagem póstuma a esses recantos mágicos onde o Porto fazia sentido.
Ou então, mais não será do que a legenda de um dos muitos amores vadios que imitam os gatos e se realizam em qualquer viela.

Comentários

Anónimo disse…
Bem, fazer sentido até fazia. mas cheirava um bocado a esgoto.

Eugénio Queirós

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