O rio é de ouro

Foram precisas muitas manhãs para descobrir o ouro no rio, razão para o nome por que é conhecido. Naquele improvável recomeço estava indecisa a temperatura, sem ser negativa ou positiva; o nevoeiro fantasmagorizava as encostas e cobria o céu de tule; o orvalho brincava às montanhas russas nas folhas das plantas enregeladas; o sol bocejava, ainda deitado de bruços no parapeito do monte; o rio era de ouro...

Foi uma distracção da natureza, sempre tão lesta a esconder segredos. Um vislumbre de minutos deixou resplandecer aquele ouro fundido a escorrer imperceptível para a forma da albufeira. O reflexo encandeava as margens anestesiadas na poesia do fim da madrugada. Os tons aguarelados simulavam um quadro pintado pela natureza. Foi um momento até o ouro se derreter em água e as cores se tornarem vívidas e focadas.

Tantas manhãs para a caça ao tesouro. Eu sei que o rio é Douro.

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