Ney Matogrosso igual a si próprio

Ajudei a encher por completo o Coliseu do Porto a pretexto de mais um concerto de Ney Matogrosso, desta feita para apresentação do novo álbum-espectáculo “Inclassificáveis”. Para além da voz potente e dúctil que empresta às canções uma originalidade inimitável, razão mais do que suficiente, o que gosto em Ney é a genuína extravagância. O cantor brasileiro transporta para o palco todas as suas fantasias, de todas as naturezas, e partilha-as com os públicos heterogéneos que não lhe poupam aplausos.
No “Inclassificáveis” ele é o que sempre foi: carnavalesco, ritualístico, tribalístico, sensual e provocatório, Ney Matogrosso faz pouco da idade e goza com as convenções e os preconceitos. Espampanante nos milhares de lantejoulas, nos penachos de pavão, nas toucas totémicas, nas saias de fiapos de contas, na roupa interior feminina, nos gestos fálicos e trejeitos lascivos, Ney demonstra um profissionalismo inatacável e couraçado que resiste, incólume, da mesma maneira, às imagens que lhe colaram ao longo da carreira e aos urros que alguns machos de plateia não hesitam em lançar durante os espectáculos: “És linda”. A couraça é tão poderosa que o cantor não se coíbe de saltar para a plateia tocando e deixando tocar, submerso na multidão ululante.
De certa forma, chocante é vê-lo depois na sua vida real. Seguro, discreto e inteligente nas respostas às entrevistas triturando a ideia de bizarro que lhe é afixada.
Ney Matogrosso tem 67 anos e a mesma voz que o terá levado a ser uma espécie de menino de coro antes de integrar o grupo “Secos e Molhados” em 1971. A longa carreira demonstrou já que Ney Matogrosso tem a coragem e o talento de poder ser tudo o que lhe apetece.
Como diz numa das músicas que colocam um ponto final no show: “Hoje só quero que o dia termine bem. Hoje só quero que o dia termine muito bem…”

Comentários

Anónimo disse…
Hoje e sempre, os dias com Ney só podem começar bem e terminar ainda melhor.
Sussurra pelas colunas no rádio "tremendo de amor" e depois grita-me que "somos
o que somos, Inclassificáveis!".
Ney é Homem, é bicho, é mulher numa vida de Cabaret.
Todos e um só, de cada vez, num crpo esguio...
Invejo o gato do vídeo, parceiro da saudável insensatez de Ney.
Anónimo disse…
Eu gosto é daquela: "O que a gente faz... É por debaixo dos pano..." Hehe! Beijinho da Ritinha

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