O Trombone motard

Fotografia - Estela Silva
O apelo para mais um concerto da Casa da Música surgiu pela banda da excentricidade. Talvez para captar a ignorante e desatenta atenção dos media, a cenoura exibida pela promoção do espectáculo era a interpretação de Christian Lindeberg da Motorbike Odyssey, de Jan Sandstrom, para trombone e orquestra (versão curta). O génio do trombone, semelhante em virtuosismo a Paganini no violino e a Liszt no piano, ia imitar o ruido dos motores das motos a passear nas paisagens naturais e urbanas. A interpretação era incluida num parêntesis de Grieg e, a fechar parêntesis, Beethoven, num desempenho da Orquestra Nacional do Porto. Na aflição de que não houvesse orgão de comunicação social que noticiasse o concerto, a promoção deixava a dica de que até os motards iam aparecer à noite clássica.
Fiquei à espera de ver entrar os motoqueiros encavalitados nas potentes máquinas na altura da Motorbike Odyssey. Não apareceram e também não fizeram falta. Lindeberg, que para a ocasião se vestiu a rigor com um vermelho casaco de couro, extraiu do trombone as imagens fiéis do som dos escapes a riscar as paisagens. Uma interpretação notável que justificou a noite. Grieg, Beethoven e Wagenseil devem ter adorado a curta viagem de moto. Mas, que eu saiba, não houve notícia...

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