Massagem


São tuas as mãos que desvendam a orografia do meu corpo.
Imagino-as na languidez do meu descanso disfarçado de sono. Sobem, coordenadas, as montanhas suaves e moldam-se dolentemente à vista dos ombros.
Desenham-me. Escalam o pescoço para se embrenharem na floresta dos cabelos abandonados.
Sabes-me de cor e fazes questão de mostrar que conheces bem os sítios mais recônditos e secretos. Revolves as raízes dos músculos e alisas a crosta com o arado dos teus dedos.
A minha pele transforma-se em terra lisa.
Ora planas como um condor perscrutando a paisagem; ora afundas o calor das tuas mãos na minha carne fremente. Tens gestos de feiticeiro e eu corpo possuído de mulher carente.
Despes-me agora o cálice de pano que simula protecção à última fracção de intimidade. A nudez do meu corpo recebe a avidez suave das tuas mãos.
Desfruto da ondulante lavoura fingindo torpor.
Dás atenção aos meus pés esquecidos; ao lado de trás dos meus joelhos; às envergonhadas axilas; exploras o desfiladeiro que separa as minhas nádegas; navegas agora no riacho que desagua no meio das minhas coxas; descobres a entrada de grutas escondidas e sei que vislumbras os meus secretos jardins.
Pintas-me a óleo e esculpes linhas perfeitas. Sou estátua ainda que sinta frémitos de actividade sísmica de desejo.
Sou tua e sei que me queres. Mas hoje apenas te consinto o néctar fecundo que escorre da fonte do meu desejo. Prova-me. Sorve-me. É essência de mim.
Sei que nessas gotas mágicas que a tua língua recolhe vais ter-me toda como só tu me queres.   

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