A pintora nudista

Colocar fotografias de mulheres nuas podia ser uma estratégia para subir os números do contador de visitas que está no fundo da página mas, garanto-vos, não é essa a linha editorial deste blogue. Acontece que nas curvas da agenda redactorial calhou-me em sorte fazer reportagem da Eros Porto 2008, uma feira erótica, que decorreu no Multiusos de Gondomar.
A rapariga que se mostra é uma italiana pseudo-pintora que utilizava decalques na parede para mostrar todas as linhas, orifícios, pormenores, olhares, gestos, poses, cicatrizes, rugas, manchas, intumescências, reentrâncias, sugestões e evidências do próprio corpo enquanto fingia desenhar erotismos imaginários.
Era bonita. E tinha um corpo que pedia para ser fotografado. Uma atitude e concentração de pintora a sério. Uma sensualidade pornográfica suportável. E o que lhe pagavam para se exibir devia dar-lhe prazer.
Tentei a entrevista influenciado pela nacionalidade transalpina da trabalhadora do sexo. O gestor de mulheres disse-me que não falava português, que o melhor era abordar uma brasileira bonita. Insisti, arrastando comigo as colegas streapers, o camaramen e subi ao palco. À primeira pergunta resultou uma resposta em surdina ao ouvido da brasileira tradutora. Dei ao meu espanhol aportuguesado um acento italiano dos filmes do Fellini e forcei a que a entrevista fosse directa. A bonita modelo pintora soltou uns urros guturais e uns gestos bizarros para acabar com a conversa de microfone. As companheiras perceberam a algaraviada e passaram-me a mensagem. “Ela não quer falar porque fez uma operação à boca, há uns dias, e não consegue dizer nada”.
Pedi desculpa e saí do palco.
A nudez explícita tem coisas destas. De tanto e tudo mostrar esconde aspectos essenciais. Os olhos contentam-se com tão pouco!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Um dia quase perfeito

A segunda vida de um piano centenário

Paulo Rebelo - O profissional das apostas (notas sobre uma reportagem TVI)