Perdido no nevoeiro
Já o sol vai alto, mas os preguiçosos lençóis de água ocultam-se na alva cama da manhã. As margens, encostadas ao corpo líquido, como um pijama verde pintalgado de casas dispersas estão aconchegadas em espessos edredões de nevoeiro. Nas montanhas a névoa lambe as matas, e as terras queimadas dos últimos incêndios de verão, e deixa um rasto de saliva. Mais longe, os montes tingem-se de azul altivo em desgarrada com o céu. As nuvens são algodão doce pendurado nas mãos das árvores despidas. A natureza prefere o algodão em rama para curar as feridas da paisagem e esconder as crostas urbanas. Uma povoação assentou alicerces no banco do nevoeiro e flutua no branco surreal. Há um caminho para o sonho.
Sinto-me divindade a levitar entre o céu e a terra, rei do tempo, escravo da beleza única, efémera, dissolúvel.
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