Quartos de hotel
Gosto de quartos de hotel. São como estações de comboio. Ou estações de serviço. Ou plataformas de aeroporto. Ou oásis no deserto. Ou ilhas no oceano. Pontos de paragem. Pontos de passagem. Zonas de transferência. Início. Fim. Mudança. São espaços para onde se leva apenas o essencial. Nós. E de onde se traz, reforçado, o que se levou: A memória, os sonhos e as expectativas. Os quartos de hotel são telas em branco onde se pintam as noites; são parêntesis onde se explicam enredos; são momentos por onde passam vidas inteiras; são cápsulas herméticas que param o tempo ou o aceleram a um ritmo alucinante. Os quartos de hotel são sítios que não existem. Está-se mas não se fica. Nos quartos de hotel o mundo fica lá fora e a vida lá dentro. Perfeita. Todos iguais, mesmo os que se chamam suites, servem de cenário ideal para as mais diversificadas histórias. Até para a ausência delas. Morrer. Os quartos de hotel são mistérios insondáveis. Não se sabe o que aconteceu na noite anterior, nas noites...