Foi preciso vir para a Turquia para começar a escrever no blog, criado há já um ano. Estou em Silopi, uma cidade no sudeste turco, mesmo à entrada do Norte do Iraque. Daqui já se vêem montanhas curdas. A Síria fica ali ao lado... O Irão um pouco mais à frente. Cheguei há uma semana e todas as tentativas de passar a fronteira foram goradas. Já centenas de jornalistas, de vários países, tentaram o mesmo, da mesma maneira e tiveram o mesmo resultado. Os que tentaram de outra forma foram detidos e expulsos da Turquia. Há aqui jornalistas a desesperar há um mês. Uma boa parte desistiu de Silopi e foi tentar para outro lado. Para além dos comboios de camiões de ajuda alimentar e reabastecimento que conseguem abrir caminho por entre a barreira militar turca pouco mais vejo desta guerra. Ou melhor, vejo o que todo o mundo vê. Na cidade de Silopi foi montado um pequeno centro de imprensa. Há três computadores ligados à internet e uma enorme televisão que debita emissões de mais de 200 canais de todo o mundo. Sei tudo o que é possível saber sobre a guerra. E no entanto, quero entrar no Iraque porque tenho a certeza que ainda há coisas que ninguém sabe e é preciso contar. A minha vizinha de computador é uma jornalista americana. Está a chorar. A fotografia de um colega vai aparecendo lentamente no ecrã. Soluça, fala com ele e toca no vidro com os dedos a tremer. Frank está desaparecido no Norte do Iraque quase desde o inicio da guerra. Em Silopi, na fronteira turco-iraquiana, estamos tão perto da guerra e tão longe. Como todo o mundo.

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