GINGKO BILOBA – UM CASO DE AMORES CONTRARIADOS NO PORTO DO SÉC. XXI

Eram os únicos elementos de uma família cujas raízes se perdiam nas mais recônditas páginas dos livros de botânica. Viviam numa cidade granítica, povoada de gente dura, pouco dada a paixões florais.

Apaixonaram-se na adolescência, quando o porte altivo lhes permitiu descobrirem as mútuas folhagens. O vento se encarregou de consumar, na primavera seguinte, essa paixão.

Um enorme bloco de betão armado, semelhante a muitos outros que pululam pela cidade, pôs termo brutalmente a essa paixão. Os óvulos não fecundados juncam agora o chão do Horto das Virtudes.

Nas noites de Fevereiro, os suspiros dos dois amantes invadem a cidade como um nevoeiro denso, mas a única resposta que conseguem despertar são os latidos dos cães.

Jorge Sousa Braga in O POETA NU (poesia reunida)

Comentários

por um fio disse…
Lindissimo este poema!
Sou uma apaixonada pela Ginkgo-Biloba e este poema tocou tão fundo em mim... até me doeu o coração!!!
por um fio disse…
Eu referi o seu blog num pequeno texto que publiquei aqui: http://www.flickr.com/photos/scarlet-poppy/

Obrigada pela sua resposta!

T.
Anónimo disse…
Lindo, lindo, lindo!!!!!!!

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