A TEORIA DA ATRACÇÃO E A ARTE DO ABRAÇO

Quando se fala ou ouve falar de Medellín vem-nos logo à ideia a violência, o narcotráfico e o nome de Pablo Escobar, o chefe do cartel. A cidade colombiana esteve sujeita a um clima de terror, na década de oitenta, que provocou mais de 3 mil mortos. Matava-se por tudo e por nada, a qualquer preço. O padre claretiano Gabriel Mejía escapou por um triz, várias vezes, a essa estatística macabra.Já nessa altura, ele era o rosto principal de um combate pelo resgate de pessoas, sobretudo crianças, das garras da droga, da guerrilha, da indigência, dos maus-tratos e abusos sexuais. Era uma pessoa incómoda cujo nome constava de algumas listas de alvos a abater.Numa dessas vezes, circulava de carro nas ruas agitadas e perigosas de Medellín quando um miúdo surgiu na frente do automóvel e disparou à queima-roupa. Os três projécteis furaram o pára-brisas, mas nenhum deles atingiu o padre Gabriel Mejía. No dia seguinte o mesmo miúdo apareceu numa das comunidades terapêuticas a pedir ajuda. Quem o recebeu foi o padre Gabriel. Ambos se reconheceram. O rapaz ficou assustado. O sacerdote foi-lhe ao encontro de braços abertos e armado com um sorriso tão potente como uma explosão.O padre Gabriel é assim. Com 64 anos, disfarçados num aspecto físico a fazer lembrar o actor Marlon Brando, exerce uma influência carismática, envolvida numa aura de simpatia, sempre acompanhada de um abraço contínuo e terapêutico. Gabriel distribui tranquilidade, esperança, paz, carinho, amor.Nas comunidades ninguém dispensa aquele abraço milagroso. Actualmente, o claretiano é o presidente da Fundação Latinoamericana das Comunidades Terapêuticas. Tem projectos disseminados por toda a Colômbia de recuperação e reintegração de pessoas. Alguns deles funcionam em propriedades que foram confiscadas pelo estado aos narcotraficantes. É, ainda assim, uma gota de água no mar de miséria que inundou um país de cerca de 45 milhões habitantes, que tem dois milhões e meio de crianças no mercado de trabalho e 30 mil ao serviço da guerrilha.É uma pessoa importante e influente que soube sempre manter-se livre dos poderes e limpo dos dinheiros que escorrem da droga. Continua a circular nas ruas da cidade com o vidro do automóvel aberto. Nos semáforos acercam-se sempre os sem-abrigo, miúdos de rua, drogados, pedintes, deficientes. O padre, conhece-lhes as histórias de vida e, no tempo de urgência do sinal verde, pergunta-lhes pela família e pela vida que levam e compra-lhes as bugigangas que vendem ou oferece-lhes algumas moedas. E dá-lhes aquele abraço de esperança que torna o mundo um pouco melhor.O padre Gabriel sabe histórias mirabolantes. Todas verdadeiras. Todas cruéis. Todas de morte e infelicidade. Ouve-as nas sessões de grupo nas comunidades terapêuticas por onde espalha uma teoria em que acredita: a teoria da atracção. Perante os olhares de medo das crianças vítimas de violência; defronte das cicatrizes dos miúdos-guerrilheiros; de frente para a fragilidade física dos dependentes da cocaína; de olhos nos olhos com a carência afectiva dos miúdos de rua; de chofre face à angústia dos adultos, o padre Gabriel, praticante da meditação transcendental, transmite uma mensagem espiritual que assenta na fé de cada um em si mesmo. A teoria é simples: Se formos capazes de crer em cenários positivos na nossa vida, à força de tanto os desejar, eles acabam por acontecer.O padre Gabriel tem na sua vida muitos exemplos que provam que a teoria da atracção funciona mesmo.

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