O Pintor de Batalhas

O livro O Pintor de Batalhas, de Arturo Pérez-Reverte é uma reflexão profunda sobre a tensão estética entre fotografia e a pintura. O livro é um triângulo de relações em desequilíbrio: Faulques – repórter fotográfico de muitas guerras – Ivo Markovich, soldado croata fotografado, capa de muitas revistas de informação no mundo inteiro - e Olvido Ferrara – antiga estudante de História da Arte, modelo fotográfico até “decidir passar para o outro lado da câmara”, morta por uma mina nos Balcãs. O livro é uma lição sobre o poder da imagem. O livro é uma história de amor entre dois colegas de profissão no meio da paixão da fotografia de guerras, em busca de si próprios. O livro é um tratado sobre a limitação da fotografia perante a perfeição da pintura. Constatação evidente quando Faulques e Olvido contemplaram o quadro Tebaida, de Gherardo Starnina, na Galeria dos Uffizi, em Florença. Um quadro, que alguns atribuem a Paolo Ucello ou a Fra Angelico.

“À força de as observares, algumas destas figuras tornam-se sinistras, não é verdade? Mete medo não saber o que fazem. O que tramam. O que pensam. E olha para o rio, Faulques. Poucas vezes vi algum tão estranho. Tão equivocamente aprazível e tão escuro. Grande quadro, não é verdade? Não há nada ingénuo pintado ali. (…) Começamos a olhá-lo divertidos e, pouco a pouco gela-se-nos o sorriso.”
(…)
“Meu Deus, Faulques! Como estamos enganados. Diante de um quadro como este, a fotografia não serve para nada. Só a pintura lá chega. Qualquer bom quadro aspirou sempre ser paisagem de outra paisagem não pintada; mas quando a verdade social coincidia com a do artista, não havia duplicidade. Magnífico era quando se separavam e o pintor tinha de optar entre submissão ou engano, recorrendo ao seu talento para fazer com que uma parecesse outra. Por isso a Tebaida tem o que têm as obras-primas: alegorias de certezas que só serão verdadeiras passado muito tempo.

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