Só por mera distracção não se repara nos pingos de vermelho puro que a terra sangra espontaneamente por esta altura nos campos de primavera. São papoilas, pequenas flores que cicatrizam imediatamente se forem colhidas. Dizem que vieram do Oriente com os cereais, que têm um poder narcótico e tendem a desaparecer com o uso de herbicidas que as tratam como se fossem ervas daninhas. Dizem que se tranformam em ópio. Deve ser por vingança...
A segunda vida de um piano centenário
Os objetos de culto são aqueles que nos guardam lá dentro. Para além da utilidade já extinta ou não; para além do juízo estético, que varia consoante o gosto, os meus objetos de culto têm esta característica: mesmo nunca me tendo pertencido é como se sempre tivessem sido meus. É o caso do piano que acabo de acolher em minha casa. Um Ritmuller que, segundo o número de fabrico, 23408, foi construído entre 1910 e 1915. Tem mais de cem anos, portanto. Não sei tocar piano, mas sempre fiquei fascinado pela voluptuosidade da forma e pela completude versátil do som. A história que aqui conto veio dentro da meia cauda deste centenário instrumento musical. Ao contrário do preço, o anúncio da venda do piano na internet não era atrativo. Mesmo sendo usado, as fotografias de má qualidade davam ideia de se tratar de um velho piano, talvez, em fim de vida. Combinado o encontro, num apartamento no décimo andar de um prédio da zona do Foco, no Porto, fui recebido pelo vendedor. Um h
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Cristina